Se você está lendo isso, independente de onde veio, espero poder te receber bem.
Eu sou Flávio. Essa é a perspectiva, um dos tipos de postagens que vou fazer aqui, toda segunda-feira, 10h30. A ideia é juntar pontos de vista sobre diversos assuntos, e inserir algumas referências criativas.
Você realmente gosta de design?
Essa semana eu vi uma postagem sugerindo que designers experientes não tem tempo para documentarem seus trabalhos pois estão ocupados trabalhando, e por isso, as pessoas que fazem recrutamento e contratações não deveriam descartar designers sem portfolio ou com seus portfolios desatualizados.
Eu vi muitas pessoas concordando. E eu entendo toda a complexidade de gastar tempo fora do horário de trabalho para ficar na frente da tela documentando projetos. Mas não basta ter experiência se ela não está visível e acessível para quem precisa avaliá-la.
Um bom recurso para evitar esse cenário é manter documentos atualizados e organizados sobre o que está sendo feito no dia a dia. A documentação contínua não só facilita a atualização do portfolio quando necessário, como também nos ajuda a refletir sobre nosso próprio crescimento e evolução como designers.
Se você não consegue encontrar tempo para fazer algo corretamente, quando encontrará tempo para refazer?
Se uma pessoa recrutadora não consegue avaliar o quanto evoluímos desde o último projeto documentado em 2017, por que investiria tempo para descobrir, correndo o risco de constatar que nosso perfil não se adequa à vaga em questão?
O que isso tem a ver com gostar de design? Pessoalmente, faço design porque amo, porque é o que sei fazer melhor. Encontro genuíno prazer em criar coisas novas. Consigo estar aqui, num sábado à tarde, escrevendo sobre isso sem ressentimento ou obrigação, da mesma forma que consigo fazer duas versões do mesmo portfólio num período de 2 meses e ainda me divertir no processo.
Isso se conecta profundamente a um movimento pessoal de rejeitar templates quando se trata do meu trabalho pessoal. Se meu portfólio é uma pegada digital de quem sou, usar um template me coloca numa posição onde declaro tacitamente que minha identidade não merece expressão singular. Em um campo onde diferenciação é essencial, entregar um portfólio padronizado comunica conformidade em vez de originalidade.
Temos uma tendência preocupante de 'produtizar' nossos portfólios assim como fazemos com entregas no trabalho - resultados práticos, eficientes, mas desprovidos de alma. Nosso portfólio deve refletir não apenas o que fazemos, mas como pensamos e quem somos como criadores. Quando tratamos nossa apresentação pessoal como mais um produto a ser entregue, perdemos a oportunidade de demonstrar nossa forma de pensar e abordar os temas, que nos define como designers e pessoas individuais.
E aqui está o cerne da questão: quando tratamos nossa autoexpressão profissional como mais um item em uma lista de tarefas, precisamos nos perguntar honestamente: eu realmente gosto de design?
O design que nasce da paixão de criar carrega impressões digitais inconfundíveis de quem o fez.
Afinal, design é uma coisa ou a coisa, pra você?
Engessamento criativo
Devido aos nossos contextos, hoje é muito fácil perder o tato para soluções criativas, porque associamos muito criatividade com eficiência corporativa.
Ora, se sempre que precisamos resolver um problema em nossos contextos de trabalho, usamos nossa criatividade, eventualmente passamos a ser reféns de um problema contextual para termos um estímulo real de criar coisas.
Qual foi a última vez que você se desafiou a fazer algo que tinha em mente e não envolvia um número da empresa ou uma demanda do Product Manager do seu time?
No tempo em que produtos como lovable e bolt existem, urge a necessidade de designers que conseguem ver ângulos menos previsíveis, tanto em relação aos usuários, quanto em relação à crafting.
Se tem uma recomendação que eu gostaria de te fazer, seria: faça projetos, mesmo que sejam para uso pessoal. Esses projetos nem sempre precisam necessariamente ser um produto, inclusive, eles nem sequer precisam passar a serem utilizados. Mas a audácia de fazer algo novo gera uma experiência que não pode ser replicada na leitura de livros e textos com a perspectiva de outra pessoa.
Referências da semana
Achei o site da Jeton incrível misturando motion e interações criativas;
Estive procurando uma alternativa para o Notion — não por não gostar, mas eu gosto de ser early adopter de produtos novos —, e uma das mais interessantes no momento é o Obsidian;
Estive fazendo alguns estudos de interação e criação de componentes, e o Design Spells foi um bom lugar pra abrir a cabeça;
Ultimamente tenho me inspirado bastante nas Leis da Simplicidade do John Maeda, para os projetos que estou fazendo — incluindo esse aqui. É um livro mas também existe uma versão resumida do conteúdo na web;
Esse é o melhor achado reservado para quem leu até aqui. O shots.so faz seus mockups de graça em alta resolução, tanto pra web quanto app. Uma boa alternativa para quem não pode usar Rotato, e de quebra, bem melhor que os mockups do Figma Community.
Referências visuais



Com toda a discussão do Duolingo ter mudado o nome da disciplina para product experience eu fico me questionando se esse pessoal realmente é designer ou é só um profissional bastante focado em fazer o produto ficar rentável. Se for o segundo caso, não espero que o portfolio desse profissional tenha qualquer preocupação com o craft. Na minha visão atual, designer sem craft é igual ferreiro que não domina o ferro.