Estamos prontos para dar os feedbacks necessários?
Durante a minha carreira, estive em posições desconfortáveis onde muitas vezes fui apresentado a projetos e fiz review de portfólios dos quais avaliei como insatisfatórios, tanto a nível de construção e conceito, quanto a nível de proposta de valor e eficiência. Em muitos desses momentos, acabei me omitindo, sabendo que poderia ter contribuído mais, porém fui paralisado pelo medo de criar desconfortos. Qual o problema por trás disso?
Quando as pessoas temem dar feedbacks adequados, uma série de problemas em cascata emerge nas organizações e na comunidade. Esse medo, muitas vezes disfarçado de cordialidade ou preocupação com o bem-estar alheio, cria um ciclo vicioso de ineficiência.
"Criticism has become complex. We've created environments where feedback sometimes focuses more on validation than improvement. […] A design culture without meaningful, constructive criticism is a culture with limited growth potential. Equally, a culture with only harsh criticism without support creates fear rather than excellence.The goal is not to return to a mythical past of brutal critiques, but to evolve toward feedback systems that are both psychologically safe and rigorously effective."
Design F*cking Better Manifesto
O primeiro problema é a perpetuação de erros. Sem feedback honesto, falhas persistem e se multiplicam. Um profissional que nunca é confrontado sobre suas habilidades tende a continuar repetindo os mesmos equívocos, afetando não só o seu próprio desempenho, mas potencialmente comprometendo os projetos que fará parte.
O silêncio que vocês chamam de gentileza muitas vezes esconde um desejo profundamente autocentrado de evitar o desconforto da confrontação. Ao "poupar" um colega de um feedback necessário, vocês não estão protegendo seus sentimentos — estão protegendo a si mesmos de uma conversa difícil. Esta "empatia" superficial tem consequências devastadoras, pois o profissional privado de feedback honesto poderá enfrentar rejeições “inexplicáveis” no mercado, oportunidades perdidas e uma carreira construída sobre fundações frágeis. O que é mais cruel: alguns minutos de desconforto durante um feedback construtivo ou anos de estagnação profissional?
E partindo desse ponto, temos o enfraquecimento da cultura de aprendizagem. Quando o feedback é substituído por elogios superficiais ou críticas vagas, criamos um ambiente onde o desenvolvimento genuíno é sacrificado em nome do conforto momentâneo.
Tão preocupante quanto os anteriores, é a erosão da confiança. Ao evitar feedbacks difíceis para "proteger" relacionamentos, acabamos na verdade enfraquecendo-os. A ausência de honestidade cria uma atmosfera de desconfiança, onde as pessoas intuem que algo está errado, mas ninguém está disposto a abordar o problema diretamente.
A longo prazo, o medo de dar feedbacks adequados compromete a inovação. Em ambientes onde as pessoas temem a crítica, há menor propensão ao risco e à experimentação. As ideias ousadas dão lugar a soluções seguras e previsíveis, limitando o potencial criativo da organização.
Por fim, esse fenômeno cria uma perigosa distorção na avaliação de desempenho. Sem métricas claras e feedback honesto, as promoções e reconhecimentos podem basear-se mais em fatores subjetivos como simpatia ou política interna do que em mérito real.
O desafio não é apenas estabelecer melhores práticas de feedback, mas cultivar uma mentalidade onde a crítica construtiva seja vista como um instrumento de crescimento, não como uma ameaça. Isso requer coragem, empatia e, acima de tudo, um compromisso coletivo com a excelência acima do conforto.
O outro lado da moeda
Essa é a parte onde eu digo: prepare-se também para ouvir feedbacks que possam soar mais difíceis. Aquela sensação amarga que sobra depois de ouvir que seu trabalho não está bom o suficiente — se bem embasada — eventualmente passa. Quanto maior sua responsabilidade no ambiente corporativo, mais duros e menos formais serão os feedbacks. Hoje eu tenho uma linha direta com a minha liderança, e somos mutualmente transparentes nesse aspecto — e tenho aprendido muito sobre o tema — mas infelizmente nem sempre teremos ambientes seguros para proporcionar espaço de aprendizado. Concentre-se em extrair o que vai te proporcionar evolução, com a mente aberta. Quando entendemos que sempre existirá para onde evoluir e o que aprender, isso se torna mais fácil.
Recomendações da semana
Estava testando alguns projetos pessoais quando me deparei com o site da Stripe, que tem um storytelling muito interessante usando motion design como recurso visual;
Falando em storytelling, talvez um dos sites que mais me impressionou esse ano — enviado por um amigo meu — foi o site do ArtPill Studio;
Como mencionei no último post, tenho tentado trocar uma parte da minha stack e aplicativos, e testando coisas novas como o Obsidian. Dessa vez, vou indicar o Vivaldi, o navegador que estou usando 90% do tempo. Altamente customizável e performático;
Eu estou bastante interessado em testar o TheySaid. Uma ferramenta de otimização de pesquisa com o usuário, usando AI para fazer fluxos mais conversacionais e orgânicos. Se você testar, me conte como foi sua experiência!
Referências visuais











Anos atrás uma grande amiga me deu um feedback. O que eu mais recordo nem foi o feedback em si mas a frase que ela usou para complementar a importância dele; "Um bom feedback é um presente." Quando o feedback é realmente honesto e mostra caminhos possíveis pode mudar todo o trajeto de alguém. Mudando a perspectiva, feedbacks honestos são até mesmo um problema cultural. Latinos tem receio de dar feedbacks (acredito que é até mais difícil fazer pesquisa aqui por isso) devido a pessoalização do feedback (a gente tende a ser mais emocional e levar pro pessoal mesmo) diferente de culturas de contexto mais direto.
Exige uma maturidade muito grande separar um feedback feito no ambiente profissional, de uma crítica pessoal. E exige uma maior ainda pra criar um ambiente onde o feedback pode ser dado livremente sem que seja mal interpretado como ataque pessoal. Acredito que o caminho é esse mesmo, evitar omissão. Eu tento ser brutalmente honesto desde o marco 0. Para que a cultura do feedback comece conosco e que consigamos deixar a porta para receber feedbacks aberta.