Quem quer ser um milionário Staff Designer?
Quando comecei minha carreira em design, a escada parecia clara. Júnior, Pleno, Sênior, e depois virar líder de design. Cuidar de um time, participar de reuniões com gente importante, tomar decisões maiores. O final feliz era virar manager.
O problema é que essa escada não leva todo mundo para o mesmo lugar.
Com o tempo (e alguns tropeços), percebi que havia um outro caminho, mais sutil, menos documentado e cheio de ambiguidade: o caminho de Staff Designer.
A ilusão da escada
A maioria dos planos de carreira em design pressupõe linearidade. Você sobe porque entrega mais, porque tem um crafting melhor, porque lidera projetos com autonomia. Mas a verdade é que o crescimento para Staff Designer não acontece no mesmo eixo.
Ser Staff não é entregar mais. É pensar diferente. É ser capaz de atuar em contextos mais amplos, com múltiplos stakeholders, alto grau de incerteza e influência sem autoridade formal. É sair do como fazer bem feito para o que precisa ser feito – e por quê. Mas qual exatamente é a definição do Staff Designer?
O que significa ser Staff?
Essa é a primeira armadilha: Staff não tem uma definição clara. O papel muda de empresa para empresa. Às vezes, de quarter para quarter.
Mas existem alguns padrões, que por tendência são:
agir transversalmente, resolvendo problemas sistêmicos que afetam vários times.
ser pontes de entendimento entre estratégia e execução.
mentorar outros designers sem uma relação direta de gestão.
ajudar o time a tomar decisões difíceis, mesmo quando não são populares.
E, particularmente, eu adicionaria um fator muito relevante:
estabelecer consistência de qualidade de entregas do time de Design.
É um cargo que acaba exigindo visão, maturidade e um certo nível de desapego de entregas diretas. O ego criativo tem que ser pequeno — o impacto, grande.
E impacto vai além do Figma e pesquisas bem feitas. Aqui é onde aquele texto padrão sobre ser “multidisciplinar” no portfólio entra em cena. Muitas vezes eu me vi:
construindo landing pages sazonais em web builders para gerar leads;
projetando banners para divulgação de uma funcionalidade nova;
elaborando material em slide decks para venda de produtos com o time comercial;
integração de ferramentas no code e low code para criar funil de leads.
Se você é o tipo de designer que não gosta de sair do modelo tradicional de design de produto, atuar como Staff pode ser uma tarefa complexa. Principalmente se considerarmos que, além de tudo isso, esse caminho não é tão bem definido.
Por que esse caminho não é linear
Se tornar Staff envolve variáveis que não dependem só de você. Uma delas é o contexto organizacional. Diferente de cargos tradicionais com escopo definido, você só consegue atuar como Staff quando a empresa tem problemas estratégicos suficientes e maturidade para reconhecer esse tipo de papel. Não adianta estar pronto se o ambiente ao seu redor ainda não sabe o que fazer com você.
Além disso, ser Staff exige operar com influência, mas sem autoridade formal. Não há um time diretamente subordinado, nem um roadmap no qual você tem controle absoluto. A influência acontece pela confiança construída, pela clareza na comunicação e pela capacidade de gerar alinhamento onde há desalinhamento. É um tipo de liderança mais sutil — e por isso, mais difícil de perceber (e talvez, de se valorizar).
Outro fator que torna esse caminho diferente é que o impacto de um Staff Designer raramente se mede apenas por entregas. É fácil quantificar a entrega de uma feature ou o sucesso de um teste A/B. Mas como medir a redução de retrabalho entre três times? Ou a clareza que você trouxe numa decisão difícil que evitou meses de esforço mal direcionado? O impacto é real, mas exige outro tipo de métrica — e outra forma de contar essa história.
E por fim, há uma armadilha comum: acreditar que excelência técnica basta. Ter domínio de ferramentas, metodologias e boas práticas é mínimo. A transição para Staff exige mudança de mentalidade. De quem entrega com excelência para quem ajuda o time a tomar decisões melhores. De quem resolve uma tarefa para quem resolve o problema certo. É uma virada de chave que não vem com curso nem certificação, mas com repertório, maturidade e intenção estratégica.
O viés pró-management
Há também um ponto importante: quase todo o discurso de progressão de carreira aponta para a gestão. Ser manager parece natural e desejável. O mundo corporativo tende a valorizar quem gere times, budgets, entregas.
Mas se você tem mais afinidade com profundidade técnica, pensamento sistêmico, estratégia de produto, talvez o seu caminho seja IC — e não gestão. E tudo bem.
Você não precisa virar gestor para ter uma carreira sólida.
Dicas para quem quer seguir esse caminho
Se me permitir dar alguns conselhos (de quem ainda também está aprendendo no processo), eu posso te recomendar o seguinte:
atue onde ninguém te pediu (mas onde precisam), procure problemas sistêmicos e seja o designer que constrói pontes.
aprenda a contar histórias e apresentar seu raciocínio, seu processo, o antes e depois das decisões.
pense como designer, mas fale como estrategista, traduzindo seu impacto em termos como: risco, custo, oportunidade e valor.
mentore sem esperar recompensas, mesmo que informalmente, compartilhando seu trabalho, revisando entregas e ajudando a estruturar raciocínios.
abrace a ambiguidade, pois ser Staff é investigar e conectar pontos soltos.
O caminho do Staff não é visível e nem óbvio. Mas ele existe. E para quem escolhe segui-lo, ele pode ser o espaço mais potente de contribuição no design.
Recomendações da semana
A The Browser Company já me fez usar o Arc por um bom tempo. Eventualmente acabei migrando para o Vivaldi, como mencionei na Perspectiva #2. Mas faz um tempo que anunciaram e me deixaram curioso para saber mais sobre o Dia. Algumas pessoas já receberam o beta para MacOS, mas fiquei de fora. Recomendo assistirem o vídeo na página, que apesar de ser longo, abriu minha cabeça sobre uso de AI, LLMs e integração com interface de maneira orgânica;
O Dann Petty tem uma série de 4 vídeos publicados fazendo reviews rápidos de portfólio. Muito bom pra aprender e fazer ajustes;
Da série de AI aplicados em pesquisa, temos agora o Pollixir. Você manda um prompt e ele cria uma pesquisa com base nele. Ainda é bem limitado em relação a quase todas as ferramentas de pesquisa (como meu queridinho Typeform), mas eu achei interessante para explorar.
Referências visuais








